BOHEMIAN RHAPSODY (Bohemian Rhapsody, 2018)



“Cinebiografia comete erros cronológicos bobos, mas consegue emocionar graças ao talento irrefutável de uma das maiores bandas de todos os tempos”

Como ocorre em quase toda cinebiografia musical, fatos são distorcidos, inventados, suavizados ou simplesmente expurgados em nome de uma suposta maior dramaticidade e para enaltecer apenas as qualidades dos seus protagonistas.

Em um filme sobre a banda inglesa Queen, tão importante e influente para a cultura pop mundial, com integrantes tão geniais, talentosos e com um vocalista tão carismático e excêntrico como o Freddie Mercury, este recurso não deveria ser utilizado. Bastaria apenas se ater aos fatos para que o filme se tornasse um épico indispensável.

Porém, o que vemos é um retrato não muito fidedigno à realidade histórica da banda. O filme é inteiramente montado em recortes de momentos importantes sobrepostos em um ritmo ágil de videoclipe, que Bryan Singer – diretor de vários filmes da franquia “X-Men” – se esforça por estilizar em momentos inspirados e ângulos inventivos, mesmo com um roteiro que aposta na velha fórmula de retratar a ascensão, a queda e, por fim, a redenção de seus personagens.

A força maior do filme reside mesmo nas sequências em que a música entra em cena, seja acompanhando momentos curiosos de composição, seja nos bastidores imprevisíveis e experimentais das gravações de canções icônicas como a que dá nome ao filme, seja na energia absurda das apresentações da banda nos palcos ao redor do mundo.

Para tudo isso funcionar, o filme conta com o talento do protagonista, Rami Malek, da série Mr. Robot, que faz uma interpretação quase espiritual de Freddie Mercury, encarnando em si todos os trejeitos e a fisicalidade única do emblemático vocalista. Os demais integrantes da banda também estão muito bem retratados, faltando-lhes apenas mais tempo de tela e um maior desenvolvimento de seus respectivas personagens.

“Bohemian Rhapsody” cobre aproximadamente vinte anos da história do Queen, retratando desde o início da parceria entre os músicos no final da década de sessenta, até o apoteótico show beneficente “Live Aid”, no estádio de Wembley, em 1985.

Obviamente, questões como a homossexualidade, a notória promiscuidade, o consumo de drogas e a AIDS adquirida pelo vocalista, são tratados de uma maneira extremamente suave. Embora todos esses elementos estejam no filme, alguns deles são apenas sugeridos, afinal a intenção maior é apenas entreter e divertir o espectador, não pesando a mão nem nos momentos mais difíceis. A opção é por uma visão mais romantizada do Freddie Mercury, ao sugerir que o maior problema enfrentado por ele é a solidão e que todos os outros problemas são decorrentes disso e não passam de meras fatalidades que serão milagrosamente superadas na próxima cena.

Para um filme que teve seu diretor demitido faltando apenas três semanas para a conclusão das filmagens devido às inúmeras brigas com os atores e com a equipe, sendo substituído as pressas por Dexter Fletcher (diretor da cinebiografia do Elton John que será lançada em 2019), e que passou por um processo de pré-produção de quase uma década, com inúmeras alterações no roteiro e no elenco inicialmente escalado para o projeto, o resultado final pode até ser considerado excelente, porém a sensação que fica após as emoções da indescritível e estonteante ultima cena é que uma banda tão boa quanto o Queen, merecia no mínimo, um filme inesquecível.

NOTA: 7,0


:: FICHA TÉCNICA:

Gênero: Biografia, Drama, Música
Duração: 2h14min
Direção: Bryan Singer
Roteiro: Anthony McCarten
Elenco: Rami Malek, Lucy Boynton. Gwilym Lee, Ben Hardy, Joseph Mazzello, Aidan Gillen, Tom Hollander, Mike Myers e outros.
Lançamento: 01 de novembro de 2018 (Brazil)
Censura: 14 anos
IMDB:
Bohemian Rhapsody

 

 

 


:: Assista abaixo ao trailer:

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