A MALDIÇÃO DA RESIDÊNCIA HILL (The Haunting of Hill House, 2018)


“Excelente série da Netflix se banha em inúmeras referências de terror para entregar um profundo e poderoso estudo sobre traumas e culpa”

Existe um elemento da mitologia grega, denominado “Caixa de Pandora”, que se refere a uma caixa na qual os deuses trancaram todas as mazelas do mundo: as guerras, as doenças, etc.

Para a psicologia, resumidamente, este mito grego significa a atitude do aprendiz que em busca de autoconhecimento é levado a abrir a sua própria Caixa de Pandora, libertando seus males aprisionados e muitas vezes desconhecidos. Abrir esta caixa significa o primeiro passo rumo a cura, na qual o psicólogo vai trabalhar formas de eliminar vaidades, medos, mentiras, disfarces e toda sorte de impurezas que permaneciam escondidas no inconsciente do portador de trauma.

Este mito explica muita coisa sobre “A Maldição da Residência Hill”, visto que a história se passa basicamente em duas linhas temporais, focando mais nas consequências dos traumas do que nos fenômenos sobrenaturais que causaram os traumas em si.

No início dos anos noventa, uma família composta por um casal e seus cinco filhos sofre inúmeros momentos de tensão e choque emocional ao adquirir uma determinada residência e descobrir que ela suga a vida e a sanidade dos que ali habitam, culminando com o falecimento de um deles.

Aproximadamente trinta anos depois que deixaram a casa, somos reapresentados aos mesmos personagens, todos vivendo vidas “normais”, projetando muros de isolamento e usando máscaras para não terem que lidar com seus traumas adormecidos. Até que, devido a uma nova fatalidade, a “Caixa de Pandora” de cada um começa a ser aberta, revelando o verdadeiro terror ao qual foram expostos.

As sequelas são imensas e as feridas voltam a se abrir com mais força do que antes, pois as crianças traumatizadas de outrora, se tornaram adultos problemáticos e a inocência deu lugar a busca por respostas racionais e plausíveis sobre os eventos que eles experimentaram na casa, atualmente abandonada e em frangalhos.

A maneira como cada um lida com os traumas da infância naquela casa tem relação com a vida adulta. O escritor de terror e investigador paranormal cético e racional, a irmã empresária do ramo de funerária responsável e “centrada”, o gêmeo viciado e paranoico, a sensitiva lésbica e fria que foge de relacionamentos, a gêmea que sofre de pesadelos recorrentes e paralisia do sono e o pai distante e silencioso que evita falar sobre o ocorrido na casa.

Além de uma história contundente, baseada no livro “The Haunting of Hill House” (1959) de Shirley Jackson, a série conta com uma edição primorosa, na qual passado e presente se misturam de maneira não cronológica, tornando a narrativa ágil e desafiadora, visto que as transições acabam formando pequenos quebra-cabeças, cabendo ao espectador, a deliciosa e intrigante missão de ir encaixando cada uma das peças.

Outro fator que eleva muito o nível da série é que todos os dez episódios são dirigidos de maneira brilhante por Mike Flanagan (Hush: A Morte Ouve, Ouija: Origem do Mal), esse fator é fundamental para que não se perca o sentido de continuidade e de entendimento da narrativa de linhas temporais tão distintas e entrelaçadas. Isso acaba também influenciando nas primorosas atuações de todo o elenco.

O sexto episódio, em especial, é de uma perícia técnica fora do comum. Todo filmado basicamente com apenas uma câmera em sequencias extremamente longas e praticamente sem cortes. Uma verdadeira aula de direção.

Por apresentar todos os citados diferenciais, essa série merece muito ser vista. O gênero terror/suspense finalmente encontrou o seu devido lugar na TV. Um lugar sério, inteligente e de muita qualidade e respeito.

NOTA: 10,0

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:: FICHA TÉCNICA:
Temáticas: Drama, Fantasia, Horror, Suspense
Emissora: Netflix
Temporadas: 1
Episódios totais: 10 (tempo entre 48 a 70 minutos)
Criador: Mike Flanagan
Produtor executivo: Meredith Averill, Justin Falvey, Mike Flanagan, Darryl Frank, Trevor Macy
Elenco: Michiel Huisman, Carla Gugino, Henry Thomas, Elizabeth Reaser, Oliver Jackson-Cohen, Kate Siegel, Victoria Pedretti, Timothy Hutton e outros.
Fotografia: Michael Fimognari
Censura: 16 anos
IMDB: The Haunting of Hill House

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:: Assista abaixo ao trailer:

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1 Comment

  1. Eduardo Salvalaio
    03/05/2019

    Preciso voltar à série porque até então não me convenceu. Não é ruim, mas não houve aquele clímax para me manter atento e curioso por cada episódio. Esperando que aconteça comigo aquele momento onde eu diga: agora sim a série engrenou.

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