‘Alfa’ retrata o surgimento da parceria entre os homens e os mamíferos canídeos


Há duzentos mil anos atrás, os homens viviam em tribos e devido ao pesado inverno ao qual eram expostos, aproveitavam o raro tempo bom para percorrer enormes distâncias para caçar, provendo assim, alimentos para sua tribo. Essas caçadas, além de violentas, eram também um rito de passagem no qual os jovens eram testados em suas habilidades de vencer a natureza e de matar suas presas, para assim tornarem-se adultos e quem sabe, novos líderes.

Nesse contexto, acompanhamos um desses jovens, que carrega o peso de ser filho do líder da tribo, mas cuja falta de experiência e dom para a caça acaba levando-o de maneira trágica a um incidente quase fatal em um penhasco, numa cena irrepreensível. Desacordado e ferido, o jovem Keda – vivido por Kodi Smith-McPhee, conhecido como o ator mirim talentoso de A Estrada e Deixe-me Entrar – é dado como morto pela sua tribo e abandonado à própria sorte em um ambiente extremamente inóspito.

Alpha é, antes de mais nada, um filme de sobrevivência que, apesar de não trazer nada de realmente novo, encanta pela beleza exuberante e contemplativa presente em cada frame. Presenteia os olhos do espectador o tempo inteiro, a ponto de desejarmos que algumas imagens se congelem ou permaneçam na tela por mais tempo, tamanha a beleza da fotografia. O apuro visual é primoroso, mérito do diretor Albert Hughes, conhecido por dirigir em parceria com seu irmão, Allen Hughes, os filmes O Livro de Eli (2010) e Do Inferno (2001).

Para contar a história, o diretor optou por usar tomadas extremamente abertas, a fim de salientar a fragilidade do ser humano diante da força imponente da natureza. As várias tomadas aéreas e distantes servem também para que o espectador tenha a noção exata do espaço geográfico e portanto da distância absurda e do tempo necessário para que a tentativa de voltar para casa seja talvez concluída.

Isso tudo é muito encantador, mas não seria o suficiente para sustentar o filme inteiro, então o roteiro, escrito pelo próprio diretor, acrescenta o arco da domesticação dos cães e do garoto perdido tentando voltar para sua tribo.

Felizmente esses arcos são complementares e se desenvolvem de maneira sutil e orgânica através do enfrentamento das situações adversas as quais ambos, homem e lobo, são expostos. Em momento algum a aproximação do menino com o lobo cinzento (correspondente pré histórico dos cães) parece forçado ou sem sentido. Então o filme acaba focando na transformação e no amadurecimento de ambas as personagens, que a princípio se atacam como inimigos, para depois se cuidarem, quebrando os velhos paradigmas em nome da sobrevivência mútua.

Alfa investe todo a sua carga emocional na relação dos dois e vai assumindo ares mais leves a medida em que avança até um final coerente, porém sem maiores surpresas.

É lamentável a decisão da Sony de distribuir o filme no Brasil apenas em sua versão dublada, visto que o áudio original é todo falado em uma língua arcaica, criada especialmente para o filme pela mesma equipe que criou o dialeto de Kripton para o Homem de Aço (2013), o que poderia causar uma maior imersão.

Outro ponto que incomoda é a falta de um cuidado e aprofundamento maior na personalidade das personagens, deixando uma leve impressão de superficialidade.

+++ Leia a crítica de ‘A Cinco Passos de Você’, de Justin Baldoni 

É um filme belo em todos os sentidos, sua intenção de criar uma história que represente, mesmo que ficticiamente, o primeiro passo para a convivência harmoniosa entre homens e cães é de comover qualquer pessoa que simpatize com esses fantásticos animais.

Apesar de remeter à mesma ambientação e temática de O Regresso (2015), é voltado para a família, portanto, seu tom é leve, agradável, aventuresco e despretensioso, mas nada disso desmerece a obra, até mesmo porque seu público alvo é bem mais amplo e com certeza vai testemunhar um dos filmes mais imageticamente belos dos últimos tempos.


 FICHA TÉCNICA:

Gênero: Aventura, Drama, Família
Duração: 1h36min
Direção: Albert Hughes
Elenco: Kodi Smit-McPhee, Jóhannes Haukur Jóhannesson, Morgan Freeman, Natassia Malthe, Leonor Varela e outros
Roteiro: Daniele Sebastian Wiedenhaupt
Produção: Studio 8
Lançamento: 16 de agosto de 2018 (Brasil)
Censura: 10 anos
IMDB: Alpha

 

 


 

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