INTERPOL – Marauder (2018)



“Mudanças salutares fazem com que novo álbum do Interpol não caia na mesmice”

Elliot Richardson. Dave Fridman. Marauder. “Back to basics”. Quinze anos de “Turn on the Bright Lights”. Paul Banks no baixo. Sexto álbum.

Todos esse ingredientes (ou tags, se preferir) se espalham e explicam “Marauder”, o novo álbum dos nova-iorquinos do Interpol, quatro anos após “El Pintor” (2014), e o segundo sem a presença de Carlos Dengler e suas linhas espirais de baixo, instrumento adotado por Paul Banks para as gravações em estúdio.

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Ao tempo que gravavam “Marauder”, preparavam-se também para os shows em comemoração aos quinze anos do álbum de estreia, “Turn on the Bright Lights” (2002), tocando-o na íntegra. Esse encontro de situações serviu como combustível a mais para a criação do novo álbum, e influenciou no resultado.

“Eu não sei como isso afetou o novo álbum de uma maneira realmente concreta. O que ele fez foi nos dar um bom contexto e perspectiva. Enquanto você está escrevendo novas músicas, consegue ver como é tocar sua música para um público”, revelou Banks em entrevista.

Como um trio, o Interpol criou as bases que se tornariam a matéria prima para o disco. Mas, ao invés de produzirem, como aconteceu nos dois trabalhos anteriores, optaram por convidar o “mago” Dave Fridmann para a empreitada.

Num primeiro momento, pode parecer estranho que a produção de Fridmann, conhecido por acrescentar uma gama de elementos aos arranjos (vide trabalhos pujantes com Flaming Lips, Mercury Rev e The Delgados), mantenha o som do Interpol mais cru do nunca. A forma como se deu a produção explica. “Já estávamos animados com as músicas de ‘Marauder’, mas queríamos um empurrãozinho. Dave foi aos ensaios, gostou da nossa energia e quis capturá-la para o disco. Isso fica claro por ser um disco cru, urgente. Gravamos tudo em duas ou três fitas, não tem praticamente nada de digital, é muito rock’n’roll”, disse Kessler. Acrescente-se que o álbum foi gravado de um forma não muito usual para os dias atuais, quase todo de forma analógica.

“Marauder” mostra o Interpol numa espécie de “retorno a garagem”, ao “back to basics”, com canções mais diretas, alguns diriam que até minimalistas. No geral, o álbum mantém a essência de sua música, foge um pouco do lado mais denso, e busca novas abordagens, seja na maneira de cantar de Banks ou na opção da mixagem, às vezes com a voz no mesmo nível dos instrumentos, noutras com a bateria soando distante ou com ênfase.

Percebe-se que algo mudou na banda já pela ideia da capa. No autointitulado álbum de 2010 era a imagem do nome Interpol desintegrando-se (ou formando-se); o título “El Pintor” era um anagrama com o nome da banda. “Marauder”, que seria uma espécie de alter ego do vocalista, apresenta uma icônica foto de 1973 do Procurador Geral Elliot Richardson, que recusou as ordens do então presidente Richard Nixon para demitir o promotor Archibald Cox, que liderava uma investigação sobre o escândalo Watergate. O próprio Banks afirmou que a capa tem muito em comum com a faixa de abertura “If You Really Love Nothing”, que fala sobre a ideia e caráter do “marauder”, um cara isolado e vulnerável.

Não se deve esperar discussões políticas nas letras ou uma temática específica. A mudança é do teor mais abstrato para uma linha mais pessoal e direta, falando mais de si (algo admitido pelo vocalista), ou a opção por assumir a postura do alter ego. Discorre-se sobre relacionamentos, a influência/importância das redes sociais ou apenas se entrega ao niilismo como subterfúgio, de encarar um mundo cada vez mais desconexo.

Musicalmente “Marauder” evidencia o quanto cada um dos membros da banda se esforçou em fugir de sua zona de conforto em busca de abordagens distintas das usuais em seu instrumento, embora os timbres de guitarra, marca registrada do grupo, na maior parte dos casos permaneçam inalterados e as linhas de baixo façam apenas sua função básica. Essa mudança de abordagens são bem evidentes em faixas como a dissonante “Stay in Touch”, com baixo pipocando nos graves; na levadinha safada de guitarra reggae que abre “Mountain Child”; nas batidas em contratempo de “Party’s Over” (onde Banks explora os falsetes); e em “It Probably Matters”, a faixa mais diferente do disco.

Em complemento, faixas como a viciante “If You Really Love Nothing”, cujo vídeo consegue retratar de forma magistral a ideia da letra, o single upbeat “The Rover”, “Complications” (com excelente trabalho de bateria de Sam Fogarino) e “Flight of Fancy”, seguem a cartilha da banda e vem se somar ao conjunto de canções emblemáticas do grupo, mas com variações mínimas em relação a algo que fizeram lá atrás.

Se quando surgiram foram constantemente apontados como revivalistas pós-punk, com citações constantes a um punhado de bandas emblemáticas da dobradinha 70/80, em seu sexto álbum, o Interpol vai se afastando das armadilhas que os rótulos impõem e apenas fazendo sua música, ainda presos a alguns parâmetros auto-impostos, mas livres de amarras externas.

:: NOTA: 8,0


:: FAIXAS:
01. If You Really Love Nothing
02. The Rover
03. Complications
04. Flight of Fancy
05. Stay in Touch
06. Interlude 1
07. Mountain Child
08. NYSMAW
09. Surveillance
10. Number 10
11. Party’s Over
12. Interlude 2
13. It Probably Matters


:: Assista abaixo ao vídeo oficial de “If You Really Love Nothing”:

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