‘Pantera Negra’ equilibra-se entre o típico filme de herói e os de cunho político e social


Para entender melhor os motivos que levaram o multimilionário estúdio Marvel a abraçar um projeto politicamente mais voltado às questões sociais vividas pelos negros, precisamos voltar um pouco no tempo e observar o sucesso inesperado de um outro filme recente: Mulher Maravilha, do estúdio concorrente, DC.

“Mulher Maravilha” trouxe, pela primeira vez na história, um filme de herói com protagonista feminina, feito por uma diretora de prestígio e com equipe de produção praticamente toda composta por mulheres. Essa representatividade feminina deu tão certo e ganhou tantas matérias – publicidade gratuita e eficiente – sobre empoderamento feminino, que a Marvel resolveu seguir os passos da DC e vislumbrou o potencial enorme de um filme sobre um herói negro, com elenco quase completamente negro, diretor negro, figurinista e demais membros da produção também negros, com uma história que coloca uma cidade africana como o lugar mais tecnologicamente avançado do mundo e então se apressou a viabilizar esse belíssimo projeto.

O ótimo diretor Ryan Coogler, responsável pelo racialmente tenso Fruitvale Station: A Última Parada e pelo interessante Creed: Nascido para Lutar, escreveu um roteiro brilhante para Pantera Negra, pois conseguiu, mesmo dentro do padrão engessado da Marvel, contar uma história repleta de significados políticos, estabelecendo um novo patamar de qualidade no que diz respeito ao desenvolvimento de personagens e corrigindo assim um dos piores erros que a Marvel vem cometendo desde que chegou aos cinemas há dez anos atrás: os vilões genéricos, caricatos e sem real motivação para seus atos. O vilão de Pantera Negra é tão bem construído que chegamos a concordar e até torcemos por ele em alguns momentos, e isso é inédito em um filme desse gênero.

Na verdade, se formos analisar o roteiro de Pantera Negra mais profundamente, podemos notar que os discursos e comportamentos, tanto do herói quanto do vilão, são livremente inspirados nos ideais de luta de Martin Luther King e Malcom X, respectivamente.

Essa representatividade política de ideais distintos, um buscando unir os povos de todas as raças e o outro pregando a segregação violenta, traz uma discussão também sem precedentes aos filmes de herói da nossa era.

Ruth Carter, a designer de produção, levou meses pesquisando as características mais marcantes em relação as vestimentas, penteados e adereços de diversas tribos africanas para compor a deslumbrante representação étnica que permeia o filme inteiro.

Outro aspecto que não passa desapercebido é a pulsante trilha do rapper Kendrik Lamar, principalmente quando o grave bate forte, anunciando as ótimas cenas de ação. Destaque para um plano sequência empolgante dentro de um cassino no qual o diretor/roteirista Ryan Coogler demonstra todo seu talento em comandar cenas de ação mais intimistas; porém quando quando ele parte para sequências de luta mais abertas e em larga escala, com uso maior de CGI, infelizmente o impacto não é o mesmo. Falta um pouco mais de habilidade do diretor com a utilização da computação gráfica. Porém, diante de tantas virtudes, esses são problemas irrisórios e pontuais, que em nada prejudicam o filme.

Pantera Negra é um filme sério, com alguns momentos de alívio cômico muito bem encaixados e com um elenco incrível, com destaque para Andy Serkis (Senhor dos Anéis), Letitia Wright (Black Mirror), Michael B. Jordan (Creed) e a oscarizada Lupita Nyong’o, de 12 Anos de Escravidão.

É um espetáculo de encher os olhos, ao mesmo tempo em que nos faz pensar em como os negros vêm sendo tratados ao redor do mundo durante séculos de violência, opressão, escravidão e falta de oportunidades, simplesmente ao nos apresentar a possibilidade de um cenário de inversão de domínio de poder.

+++ Leia a crítica de ‘Vingadores – Guerra Infinita’, da Marvel

Esse exercício de imaginação desse cenário invertido é o que faz toda a diferença e torna Pantera Negra um verdadeiro marco para a Marvel e para a indústria milionária de entretenimento da qual ele faz parte.

Um filme necessário para nossos tempos.


FICHA TÉCNICA:

Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Duração: 2h14min
Direção: Ryan Coogler
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Angela Bassett, Forest Whitaker, Andy Serkis, Winston Duke e outros.
Roteiro: Ryan Coogler, Joe Robert Cole (Baseado nas histórias em quadrinhos de Stan Lee e Jack Kirby)
Lançamento: 15 de fevereiro de 2018 (Brasil)
IMDB: Black Panther

 

 


 

Previous Far From Alaska com clipe novo :: Assista "Monkey"
Next Assista ao clipe de "The Edge of Forever", de Work Drugs

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *