PROJETO FLÓRIDA (The Florida Project, 2017)


“Nos arredores da Disney, habitantes miseráveis de um hotel de beira de estrada nos fazem refletir sobre a natureza devastadora de um mundo tão desigual”

Raramente vemos um filme que fica cada vez melhor após os créditos subirem. Sem dúvida, esse efeito interessante acontece com “Projeto Flórida”, pois a cada vez que pensamos sobre o filme, vamos digerindo suas intenções e percebemos que por trás de uma história simples e direta, somos testemunhas de algo extremamente indigesto e complexo: a desigualdade financeira e social absurda que torna seres humanos iguais em desiguais, pois crianças em situação de miséria não deveriam nunca ser privadas de serem simplesmente crianças.

A história acompanha os moradores de um hotel que vivem a margem da sociedade por estarem desempregados ou com subempregos. Entre eles alguns traficantes, prostitutas, um zelador gente boa e muitas crianças. É aí que o filme mostra toda sua força, pois toda a miséria passa a ser apenas um pano de fundo que nunca parece atingir de verdade a inocência e alegria de viver dessas crianças.

O talentoso diretor Sean Baker fez um filme com aspecto quase documental, optando por usar a câmera solta na mão e atores “amadores” – com exceção do Willem Dafoe – que impressiona pelo tom natural e verdadeiro que imprime em cada cena.

A sensação é que o diretor deixou a câmera rolando e documentou a vida real daquelas pessoas. Essa sensação só é quebrada quando a belíssima fotografia entra em cena e nos remete aos melhores momentos do brilhante diretor Wes Anderson e seu jogo de cores chamativas e cenários simétricos, contrastando com o caos no qual as personagens vivem.

Então nos deliciamos com uma visão engraçada, divertida, enérgica e leve dos pequeninos aprontando todas pelo hotel e seus arredores, enquanto seus pais – mães solteiras em sua maioria – se viram do jeito que podem pra garantir mais um dia de teto sobre suas cabeças.

Apesar do excelente Willem Dafoe – indicado ao Oscar de ator coadjuvante -, quem carrega o filme nas costas é a interpretação espetacular da atriz mirim Brooklinn Prince, que aos seis anos de idade é dona de um carisma sem igual e é capaz de expressar os sentimentos e as emoções mais difíceis para qualquer ator. É realmente impressionante o que essa garota faz aqui. A relação de sua personagem com a amorosa e desajustada mãe é o que norteia o desenrolar dos fatos.

Não se deve esperar por um filme com uma trama fora do normal e com grandes reviravoltas, o foco aqui está nas personagens e em como elas vão sobreviver até o próximo dia e isso basta pra nos fazer torcer por elas e nos realmente nos importarmos com o desenrolar de cada uma daquelas vidas. Carece de um pouco mais de ritmo no primeiro ato, mas consegue emocionar sem ser maniqueísta e prende a atenção até um final no estilo “soco no estômago”.

Engraçado, realista, dramático, belo e forte, “Projeto Flórida” é, sem exageros, um dos melhores filmes do ano, uma obra-prima a ser descoberta.

:: NOTA: 9,5

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:: FICHA TÉCNICA:

Gênero: Drama
Duração: 1h51min
Direção: Sean Baker
Elenco: Brooklynn Prince (Moonee), Christopher Rivera (Scooty), Aiden Malik (Dicky), Josie Olivo (
Grandma Stacy), Willem Dafoe (Bobby), e outros.
Roteiro: Sean Baker, Chris Bergoch
Lançamento: 01 de março de 2018 (Brasil)
IMDB: The Florida Project

 

 

 

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::Assista abaixo ao trailer do filme:

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