Estreia do Cigarettes After Sex é intimista e versa sobre des(encontros) amorosos


Da improvável El Paso (Texas) brota a música de clima intimista e cheia de delicadeza do quarteto Cigarettes After Sex, que alguns tem chamado apressadamente de Ambient Music. Surgida em 2005, só agora a banda liderada pelo vocalista Greg Gonzalez chegou ao seu homônimo primeiro álbum.

Através de dez canções, quantidade clássica para um álbum, Cigarettes After Sex convida o ouvinte para uma viagem tranquila através de guitarras melódicas embebidas em efeitos reverb, arranjos de variações mínimas e um vocal quase sussurrado que vai narrando de encontros amorosos a tardes de sexo sem compromisso.

Musicalmente a sonoridade do grupo sugere um encontro de Mazzy Star (nos arranjos de poucas variações e clima melancólico) com Beach House (nos dedilhados sutis de guitarra e paisagens sonhadoras). Impossível ao ouvir a música do grupo não lembrar de uma entrevista com o Cocteau Twins onde eles contavam que as pessoas costumavam lhes falar que usavam a sua música para as situações mais “inusitadas”. Entre a sensualidade e a melancolia, a música do Cigarettes se enquadra na mesma categoria do trio escocês. Talvez por isso o rótulo de Ambient Music, que em parte faz sentido e em parte não, já que, como qualquer rótulo, tende a ser limitador. Mas também poderiam chamar de Sad-Dream, uma mistura de Sadcore com Dreampop.

Escolha um rótulo ou não, a música do grupo é das coisas mais elegantes e ao mesmo tempo charmosas lançadas nesse ano. Segue esse compasso desde a abertura com os dedilhados reverberantes de ‘K’ – o K é de Kristen, a garota por que Gonzalez diz lembrar quando notou pela primeira vez que ela também gostava dele: “Kristen, volte logo, estive esperando que você voltasse à cama, quando você acende a vela”.

Em geral essa é a tônica das letras de Gonzalez ao longo do disco, narrando encontros e desencontros amorosos das formas mais variadas e com romantismo em diversos momentos. Em cada letra alguma ou algumas frases carregadas desse romantismo embriagado de saudade e tristeza. Está lá na densa “Each Time You Fall in Love”: “Cada vez que você tem um sonho, você nunca sabe o que significa. Você vê essa estrada aberta e nunca sabe o caminho a seguir. E, cada vez que você se apaixona, claramente não é suficiente”; na onírica “Sunsetz” (que se parece bastante com “Apocalypse”): “Quando você vai embora eu ainda vejo você com a luz do sol em seu rosto através da visão traseira”. Tudo acompanhado de forma precisa pelo baixo profundo, a bateria quase imperceptível, e as guitarras ou teclados cheias de climas, uma conspiração.

+++ Leia a crítica de ‘April’, do Sun Kil Moon

É um álbum intimista, composto por um punhado de canções de andamento lento, letras pungentes (que merecem acompanhamento) e arranjos tão delicados que parecem facilmente fáceis de serem desfeitos. Exige sua atenção e caso você não dê, o problema será somente seu, pois ainda assim essas músicas estarão lá. Se você permitir, poderão ser suas companheiras hoje, amanhã e qualquer dia que você desejar “esquecer da vida”, nem que seja por quarenta e sete minutos.


FAIXAS:
01. K.
02. Each Time You Fall in Love
03. Sunsetz
04. Apocalypse
05. Flash
06. Sweet
07. Opera House
08. Truly
09. John Wayne
10. Young & Dumb

 


 

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