ENTREVISTA | Sofie Jell


Aproximadamente cem quilômetros é a distância entre Feira de Santana e Salvador. Sendo a capital do estado, natural que Salvador acabe influenciando culturalmente todas as cidades em volta, perto ou longe. Principalmente na música. Muita gente sabe, e muita gente não sabe, mas há em Salvador uma outra Salvador, assim como há em Feira de Santana uma outra Feira de Santana. Nessas cidades paralelas que coexistem, mas não existem para muitos, o rock é a tônica, a música alternativa tem vida e as guitarras falam alto.

Entre Feira de Santana e Seattle ou Detroit, há quilômetros aos milhares fisicamente. Musicalmente, bem perto. Entre 2017 e os anos 90, uma distância de quase três décadas na linha temporal. Musicalmente, presente e vivo. Nos riffs distorcidos de guitarra embriagados em fuzz, distortion ou overdrive; nas batidas secas e pesadas da bateria, ou nos graves abundantes do baixo, Sofie Jell busca romper dimensões, conectar espaço e tempo.

Para o autoconhecimento, há sempre um caminho a trilhar, faz-se necessário começar. Com “The Ground”, canção apresentada como primeiro single – com produção e arranjo caprichados -, deram o pontapé inicial. O tempo responde perguntas. A distância física não é barreira, a música chega aos mais recônditos lugares do planeta. A palavra também.

Formação: Lucas Laudano (Vocal e Guitarra), Leonardo Guimarães (Bateria) e Brunno Mendes (Baixo).

Como a banda surgiu? Lucas tocava com a That River, Leonardo tocou em algumas bandas da cidade e tinha um projeto de estúdio, que inclusive Lucas participou de uma canção. Poderiam falar um pouco da história da Sofie Jell?
R: (Lucas) Conheci Léo melhor no início de 2016, e logo encontramos uma grande afinidade musical, meio que assustador de tão parecido(risos). Leo viveu os 90s e dizia que eu meio que vivi também em algum lugar no universo. Brunno eu conheci em 2014, e sempre esboçávamos uma vontade de criar um projeto juntos. Fizemos a Lunno como um projeto cover, apesar de não ser muito próximo do que a Sofie é, porém serviu de pontapé para um trabalho conjunto. Então, em 2017, decidi sair da That River e nos juntar como um novo trio, pois achava que havia muita compatibilidade entre nós musicalmente.

A ideia é manter-se como um trio ou há espaço para novos integrantes?
R: Inicialmente compomos como nos apresentamos no presente: um trio. Então nosso esquema de composição atual é pensando em uma única guitarra. Nos importamos mais com a cama dos riffs do que com os raros solos, logo a gente tenta juntar nossos 4 instrumentos(guitarra, baixo, bateria e voz). Porém somos bastante flexíveis em relação a mudanças e futuramente, por que não, um novo integrante, um novo instrumento, uma conversão ao budismo, etc?

Sofie Jell é um nome interessante porque inicialmente não se associa a nada, como chegaram até ele?

R: Foi um sonho(hahah, pior que falo sério) que tive em 2015, daí guardei o nome num caderno. Quando nos juntamos logo lembrei do nome e ele meio que tomou um significado. “Sofie” seria uma menina, uma filha…”Jell” é um verbo, muito pouco usado by the way, e isoladamente significa “promissor”, “ tomar forma, consistência”. Essa analogia meio que representa o que nós buscávamos como banda. E somente uma ressalva à licença poética de não concordar o verbo com o pronome, não ficaria tão bacana(risos).

Como se sentem com o uso do termo grunge ao falarem da música de vocês? Acham que acaba sendo restritivo em termos de sonoridade?
R: Somos uma compilação dos 90’s. Muita coisa entra em jogo, como a cena 80’s/90’s de Washington D.C e NY, mas não negamos a influencia “grunge”, até porque seria um estilo que pensamos em nos associar esteticamente. Os seres humanos infelizmente ou não, necessitam desse norte rotulista.

Sendo uma banda com um tempo relativamente pequeno de formação, impressiona como conseguiram montar um repertório. As canções já existiam antes da Sofie Jell?
R: Não! Compomos quase tudo em três fucking meses (acho que até menos). A maioria das músicas que apresentamos no repertório foi graças a nossa união em estúdio, onde definimos cada música como uma quebra-cabeça. Acho que quando as ideias são alinhadas no mesmo plano, a composição vem fácil.

Em uma entrevista, ainda na That River, o Lucas falou que suas composições saiam normalmente em inglês e que era algo natural, como surgem as canções da Sofie Jell? Quem escreve as letras e quais os temas tratados?

R: (Lucas) Sim, é como me sinto mais honesto em compor músicas. Acredito que quando aquilo que se expressa é o mais importante, não importa de qual forma se propaga. O objetivo é tirar algo de um sentimento e passar da forma mais confortável possível pra mim. Tratamos de muitos assuntos, questões internas, experiências…não nos fechamos a uma abordagem, porem acaba que são musicas conceituais de certa forma. Gosto da ideia da pessoa criar sua própria interpretação, não gosto quando colocam muito sentido definido nas letras. O que se sente sobre é a maior verdade de cada um. Gosto da ideia de liberdade de interpretação e de acharem o que quiserem, apesar de no final ter a opinião de quem criou(risos), que se torna mera opinião também. As palavras já existem e o significado delas é mutável. “Mutável” é uma palavra bonita!

“Ground” é o primeiro single de vocês e já mostra uma qualidade impressionante tanto de arranjo quanto de gravação. Poderiam falar como foi o processo de gravação?
R: (Lucas) “The ground” foi uma composição que nasceu no final de 2015. Quando nos juntamos ela já tinha todo um corpo (toquei algumas vezes com a That River), porém os arremates criados pra ela (uma mudança total no arranjo de bateria (Leo) e de baixo (Brunno) posteriormente foram cruciais para o crescimento da música.

Vocês tocaram no Fervura, na Cúpula do Som e vão tocar no Festival Feira Noise em novembro. Como analisam o cenário local para as bandas de rock? Vocês acham que o momento atual apresenta-se mais propício do que há alguns anos atrás, em termos de espaços para tocar, divulgação e público?
R: (Léo) O som sempre vai estar ai se reinventando e afirmando seu espaço, e se compararmos as épocas numa proporção de tempo, observamos que hoje existe uma realidade muito melhor que a de duas décadas atrás , eventos melhores, bem articulados, com boa comunicação, e que tem todo um cooperativismo por trás disso, de pessoas trabalhando sério pra que isso aconteça. Isso consequentemente gera uma outra perspectiva pra cena independente. E hoje as mídias sociais potencializam o compartilhamento das informações, isso torna-se uma ferramenta poderosa de divulgação.

De quais bandas locais ou não locais se sentem mais próximos, seja em termos de sonoridade ou não?
R: Pô, a gente ouve coisa pra caramba, sem dúvidas que somos fãs de música (risos). Do lately 80’s até todo os 90’s, a gente faz uma compilação de tudo que a gente gosta, no nosso próprio tempo, servindo como influência base. A lista é imensa, mas poderíamos citar Led Zeppelin, Sonic Youth, Fugazi, Pixies, Helmet, Faith No More, Jeff Buckley, Smashing Pumpkins, Soundgarden, Pearl Jam…etc e etc.

Quais os próximos passos da Sofie Jell?
Gravar um EP, encaminhar o novo clipe, fazer muitos shows e get the road…
R: Estamos felizes com a resposta bem imediata da galera, que mesmo com poucos shows já fizeram presença cantando, se doando assim como fazemos. A cada show queremos mais e mais passar experiências sonoras que marquem todos nós naquele momento, sentir toda a vibe disso é muito lindo.

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:: Ouça “The Ground”, primeiro single da Sofie Jell:

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