ARCADE FIRE – Everything Now (2017)


“Arcade Fire seguem inquietos tentando reinventar sua música”

A música eletrônica (ou o uso de seus elementos) tem sido o abrigo sonoro que várias bandas tem buscado quando tentam “reinventar” sua música. Não há problema, ousar faz parte da rotina dos artistas inquietos. O problema é que quando você abandona seu terreno, sua zona de conforto e parte para paisagens totalmente estranhas, tende a também se tornar um estranho. Você pode até não se sentir, mas as pessoas perceberão. Editors e Wild Beasts trilharam esse caminho, ambos com resultados não muito satisfatórios: a primeira perdeu o guitarrista e um dos seus fundadores e está tentando se encontrar; a segunda acabou.

Tentar se reinventar no mundo da música é um desafio, bandas como U2, The Cure, Depeche Mode o fizeram com resultados interessantes. O The Flaming Lips parece fazer isso a cada álbum e sempre surpreendem. Quantos álbuns lançaram ao longo de suas carreiras até resolverem dar uma guinada em seu som? As bandas atuais parecem desconfortáveis com sua música após poucos álbuns ou sentem-se tão confiantes, tão cheias de crédito, que fazem a ruptura de uma forma brusca e, o pior, com resultados que ficam bem aquém de tudo que fizeram.

O Arcade Fire alcançou uma posição respeitável na música pop – e de forma um tanto meteórica – que talvez nem eles mesmo acreditassem que aconteceria quando lançaram seu primeiro e homônimo EP lá em 2003. Não se pode tirar o mérito e a competência da banda, inclusive muito do que conseguiram de deve aos seus shows, que sempre primaram pela intensidade em palco, construindo momentos de catarse com as canções de “Funeral” (2004) – seu melhor álbum – ou “Neon Bible” (2007).

Dentro do universo de canções de tom sombrio de “Neon Bible” ou do indie rock mais direto de “The Suburbs” (2010) ainda era possível encontrar elementos que permitiam identificar aquela banda ainda capaz de encantar, álbuns coesos e concisos dentro de suas propostas, diferentes entre si mas com unidade.

“Reflektor” (2013) tinha seus elementos de balanço, que rememorava e requentava ideias lançadas lá no final da década de 70 pelos Talking Heads e mais uma diversidade de ideias que soavam dispersas. Pecavam por construírem canções longas e com arranjos pouco dinâmicos, logo repetitivas. Então, para quem havia embarcado na nau dos canadenses por conta dos arranjos suntuosos e cheios de elementos, não deixava de ser decepcionante esbarrar numa “Flashbulb Eyes”. Era um álbum errático, longo, confuso e disforme. Mas com faixas de bom quilate como “Reflektor” e “Awful Sound”.

“Everything Now” não sofre da disformidade de seu antecessor, mas não consegue uma canção emblemática, o mais próximo que chega é em “We Don’t Deserve Love”, que até soa deslocada ante as outras faixas por soar mais o Arcade Fire de outrora.

A banda tem consciência do que quer e de onde quer chegar: uma música que contagie, que faça as pessoas dançarem, com balanço, repetição e qualquer fórmula que um dia deu certo na história da música pop. Mas com letras inteligentes, que faça pensar, o que pode criar um paradoxo letra/canção. Não estranhe, por exemplo, se de repente parecer que está ouvindo uma música do Abba. Está lá em “Everything Now”, a primeira faixa, uma não tão típica canção pop, produzida com todos os elementos musicais preparados para agradar: balanço, elementos acústicos de fundo e um teclado com melodia que repete as frases do refrão e, claro, um refrão ganchudo, mas com uma letra que critica o consumismo atual em suas mais variadas formas.

Se no quesito música há algumas lacunas, nas letras Win Butler continua certeiro.

“Creature Comfort” também acende uma chama de esperança, se não na letra, que é cheia de sentimentos autodestrutivos, mas numa canção que carrega um pouco da aura comum às canções daquela banda surpreendente: “Suicídio assistido, ela sonha em morrer o tempo todo, ela me disse que chegou tão perto, encheu a banheira e colocou o nosso primeiro CD”. Mas aí vem o choque com “Peter Pan”, das faixas mais insossas já compostas por Win Butler e seus companheiros; ou com a bobinha “Chemistry”; ou com os falsetes, elementos retrôs e palminhas de “Electric Blue”.

Ao redor do álbum a banda fez toda uma campanha de marketing para promovê-lo. Algumas estratégias inclusive brincando com a mídia atualmente e a maneira como certas informações ganham dimensões desproporcionais. Mas cabe uma reflexão: quando a embalagem chama mais a atenção do que o conteúdo, não é sinal de que algo está errado?

A frase é gasta mas serve bem para descrever “Everything Now”: grandes expectativas andam de mãos dadas com grandes decepções. No caso aqui até não havia grandes expectativas, talvez de um álbum menos errático que “Reflektor”, o que até consegue ser. Mas o que decepciona não é olhar para trás e colocar esse novo álbum em comparação com o que a banda fez outrora, mas saber que a sonoridade que propõem aqui há bandas fazendo e que já fizeram algo com muito mais propriedade e resultados mais satisfatórios. Não é o momento de desistir da banda, ainda há esperança.

NOTA: 6,0

:: FAIXAS:
01. Everything Now (continued)
02. Everything Now
03. Signs Of Life
04. Creature Comfort
05. Peter Pan
06. Chemistry
07. Infinite Content
08. Infinite_Content
09. Electric Blue
10. Good God Damn
11. Put Your Money On Me
12. We Don’t Deserve Love
13. Everything Now (continued)

:: Assista ao videoclip de “Creature Comfort”:

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