Thurston Moore busca novos ares velhos em ‘Rock’n’Roll Consciousness’


Em ‘Rock’n’Roll Consciousness’, Thurston Moore segue mantendo as guitarras como protagonistas

O timbre das guitarras que abre Rock’n’Roll Consciousness é inconfundível, por anos foi marca registrada da ex-banda de Thurston Moore, o Sonic Youth. Poderia vir na sequência da canção alguma microfonia ou um inferninho noise característico no ato pós melodia, mas segue-se um solo envenenado em fuzz, algo inimaginável em uma canção do SY. Estamos falando da longa “Exalted”, que se por um lado carrega muito da aura dos trabalhos de outrora do músico, inclusive na estrutura do arranjo multifacetado, também quer ter feições próprias, quer ser uma música de Moore enquanto artista solo.

Diferente do álbum anterior, aqui o guitarrista admite que buscou fazer um trabalho mais de banda, com isso deu liberdade aos músicos que o acompanham para que tivessem papel menos “secundário” nas canções. Assim James Sedwards (guitarra) e Debbie Googe (baixo) mostram personalidade em suas funções, acrescentam novos ingredientes às ideias de Moore. Ainda que Steve Shelley, que também era parceiro no Sonic Youth, seja um elemento na equação que acaba não mudando muito a conversa. Embora até sua pegada nas baquetas rume por caminhos diferentes ao acompanhar o baixo de Debbie, como se percebe na levada marcial de “Cusp”, a faixa com estrutura mais direta de todo álbum, quiçá da carreira do guitarrista.

Rock’n’Roll Consciousness é um disco de canções longas, e segue uma mescla entre melodia e momentos de guitarras explosivas, uma explosão controlada que já tinha se tornado característica nos álbuns do SY pós Dirty (1992). Essa dicotomia perpassa quase todas as poucas canções do álbum, tendo seu lado mais experimental em “Aphrodite”.

O que quebra essa verve que remeteria de forma direta a um total requentado de coisas antigas é justamente a liberdade que a guitarra de Sedwards tem para adicionar timbres diversos daqueles tão comuns na história de Moore, e o faz tanto em “Exalted” quanto em “Turn On”. Essa última, por sinal, com uma sequência melódica que muito lembra um trecho da música “Na Baixa do Sapateiro”. Já o solo de “Smoke of Dreams” da a canção um quê de Dinosaur Jr., devido tanto à progressão de acordes quanto ao efeito utilizado.

+++ Leia na coluna ‘Esse Eu Tive em Vinil’ sobre ‘Sister’, do Sonic Youth

Questionado sobre o título do álbum, Moore afirmou que ao avaliar a sua vida e buscar algo que sempre a esteve direcionando, a conclusão foi de que a música tem sido esse elemento, o Rock especificamente, por isso uma “consciência Rock’n’roll”. As ideias musicais presentes aqui deixam bem claras as intenções de fazer um álbum de Rock, um álbum de guitarras, que, mesmo resvalando muito em momentos do passado, busca apontar para o futuro, ainda que tenha que regredir às raízes de um passado mais remoto ainda, ao exaltar referências do Rock de garagem setentista de forma mais explícita.

Thurston-Moore-Rock-n-Roll-Consciousness

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2017
GRAVADORA: Caroline / Fiction
FAIXAS: 05
DURAÇÃO: 42:56 min
PRODUTOR: Paul Epworth
DESTAQUES: “Exalted”, “Smoke of Dreams”
PARA FÃS DE: Sonic Youth, Garage-Rock

 

 

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