Fina aura melancólica perpassa ‘Technique’, o ápice na carreira do New Order


Foto da banda New Order para resenha do álbum "Technique"

Saber que eram remanescentes do Joy Division e que faziam música com elementos de eletrônica era o suficiente para que tivesse antipatia ao New Order. Não queria saber de sua música, nunca havia escutado mas não gostava. Não poderia jamais gostar de uma banda que não fazia jus ao seu passado. Era exatamente assim que enxergava o New Order, inclusive em Technique.

Dêem um desconto, nessa época a única banda que usava teclados e que eu gostava e venerava era o Kraftwerk.

Já comentei em outros textos dessa coluna sobre outras bandas que não gostava por um motivo ou outro e que posteriormente se tornaram queridas: Talking Heads, Ramones, Stone Roses (desses falarei futuramente).

Como é bom abrir o olhos e poder enxergar certas coisas livre de preconceitos tolos e ideias pré-concebidas. Dar o braço a torcer e dizer: Poxa, essa banda é boa, como eu estava enganado!

Minha “amizade” com o New Order começou com uma apresentação bem despretensiosa de um amigo que havia comprado na capital alguns álbuns deles: Brotherhood, Technique e Low Life, se não me engano. Um belo dia, chegando em sua casa e ele resolve sacar os álbuns para tocar.

A medida que ele ia colocando os álbuns, ia encontrando elementos que me agradavam, principalmente as linhas melódicas do baixo de Peter Hook. De forma estratégica, ele começou mostrando o ‘Brotherhood’, que tem uma pegada menos eletrônica, depois o ‘Low Life’ e, por fim, o mais eletrônico de todos, “Technique”. Fiquei impressionado com o que havia escutado, principalmente com o ‘Technique’. Tirando “Fine Time” (primeira faixa do Technique), havia gostado muito do que havia ouvido. resolvi levá-los para ouvir.

Como esse texto deve ater-se ao Technique, vou resumir minha relação com ele dizendo que é o melhor disco do New Order, melhor, que é o que mais escutei, logo é o que mais gosto. Após a audição, acabei fazendo algumas trocas de outros discos pelos do New Order, que se tornou também banda de cabeceira.

Até hoje, continuo achando que “Fine Time” destoa do restante do álbum, mas de resto há nele uma coleção de ótimas canções compostas pelo grupo, encadeadas numa sequencia memorável como em nenhum outro disco da banda. Ouvir Bernard Sumner cantar em “All The Way” que: “leva anos para achar o cerne, para se afastar do que você já fez, para encontrar a verdade dentro de si e não depender de ninguém”, mostra um lado lírico nunca antes perceptível em suas letras.

A melancolia que exala da melodia e letra de “Love Less” faz uma aproximação com o New Order de ‘Low Life’. E até o hit estrondoso “Round and Round” traz de fundo uma aura saudosa. A partir daí vem uma sequência de cinco das melhores canções já compostas pela banda, todas carregadas desse delicioso sentimento saudosista mencionado. Com as letras relatando relações partidas, sentimentos incompreendidos, arrependimento e saudade.

Sempre se falou que o New Order fazia música eletrônica inteligente, que foram mestres e pioneiros em fazer a fusão entre rock e eletrônica como poucos, e não há como negar, com ‘Technique’ ele atingiram o ápice de sua proposta. Prova disso é que depois dele, nunca mais conseguiram elevar o patamar em outros discos. E o fechamento do disco não poderia ser mais tocante que os versos de “Dream Attack”: “Nada nesse mundo pode tocar a música que ouvi quando acordei essa manhã, ela colocou o sol em minha vida, cortou meu a batida do meu coração com uma faca, foi como nenhuma outra manhã”.

‘Technique’ comprova que as músicas que mais nos tocam são aquelas que marcaram algum momento de nossa vida, servindo como trilha sonora desses momentos, por isso tornam-se inesquecíveis e carregadas de sentimentos, lembranças e nostalgia.


capa album technique da banda new order

:: FAIXAS:
01. Fine Time
02. All the Way
03. Love Less
04. Round and Round
05. Guilty Partner
06. Run
07. Mr. Disco
08. Vanishing Point
09. Dream Attack

 

 


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1 Comment

  1. Ângelo Fernandes
    30/01/2019

    Sei bem dessa história porque compartilhei do mesmo pensamento de pré-conceito (talvez pela postura ligada ao punk e o pós punk) quanto a banda. Também acabei rompendo barreiras ideias e reconheci o grande valor da mesma, tanto que hoje tenho toda discografia (em mp3) da banda. E pra finalizar, assim como sua bela capa, realmente “Technique” acaba sendo a obra prima do New Order.

    P.S.: “Round And Round” e suas belas modelos é o vídeo clipe que mais assisti da banda – um colírio para os olhos e o sussurrar de uma leve brisa para os ouvidos.

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