‘Sister’, o disco que fez escola no meio alternativo americano e mundo afora



Um belo dia de 1989 meu amigo Ângelo chegou todo empolgado com esse disco em mãos, havia recém comprado na Muzak e estava muito entusiasmado com o que tinha ouvido. Não demorou a fazermos uma audição “coletiva” do disco, fato comum naquela época, pois não bastava comprar e ouvir sozinho, tinha que ouvir também com os amigos.

Sim, aquela época era bem mais divertida e empolgante do que hoje. Éramos jovens, tínhamos algumas informações trazidas pela Bizz, pouco acesso aos discos, pouca grana, mas muita vontade de conhecer e ouvir mais e mais bandas que surgissem. E o ouvir era realmente rodar o vinil diversas vezes, saber a ordem das faixas e, se tivesse letras, como era o caso aqui, acompanhar e tentar entender

Como alguém já disse, cada tempo com suas peculiaridades.

A gente olha pro passado mas vive o presente. A gente pensa no futuro mas vive o presente.

Esses “caras” do Sonic Youth de início lembraram o Velvet Underground. Uma sonoridade de garagem, como se tivesse sido gravado ao vivo, um vocalista que mais parece um anti vocalista, um encarte em preto-e-branco que mais parecia uma página de um zine, e batidas tribais às vezes alucinadas. As guitarras ensandecidas e, o mais legal, uma mulher que canta e toca baixo!

A compra da bolacha foi inevitável.

Amei essa banda. Amei de verdade!

Até porque, pra mim, diferente do Velvet, eles soaram com mais vigor, mais urgência, mais rápidos, mais “intensos”? Um “Velvet” para aquela época.

As guitarras me pareciam uma loucura desordenadamente organizada. Pareciam não seguir ou se comparar com nada do que eu escutava na época. De onde vinha a inspiração pra esses “caras” fazer uma música assim, me perguntava. Só mesmo lá fora pra surgir uma banda como essa?.

Apesar de todo o amor, como too relacionamento afetivo, tinha um problema. Naquela época meu lance era tocar baixo e, diferente do Pixies, onde o baixo é bem presente, no som do Sonic Youth quase não se ouvia os sons mais graves. Parecia mesmo que a banda nem tinha baixo. Por isso o termo guitar-band, muito usual na época.

Apesar desse pequeno detalhe um disco para sempre sensacional. Muitas vezes soava como a trilha sonora para o momento em que me encontrava. Outro problema em meu relacionamento com ele. Não dava pra ouvir sempre que surgia a vontade. Meu pai não aguentava aquela profusão de guitarras barulhentas que mais parecia um disco arranhado (na definição dele), assim como o Psychocandy, do Jesus and Mary Chain. Então tinha sempre que esperar o momento mais adequado para ouvi-lo, até porque o aparelho 3 em 1 ficava bem na sala. Sim sou da época do 3 em 1. Sou antigo, como diria a esposa de um amigo.

Tempos difíceis aqueles! Mas muito bons! E esse disco faz parte da sua trilha sonora.

‘Sister’ pra mim é clássico. Fez escola no meio alternativo americano e mundo afora. E o Sonic Youth, dizem e eu concordo, foi uma das bandas que salvou a cena alternativa americana naquela época. Uma das responsáveis, inclusive, por apresentar o Nirvana à Geffen.

Não falarei sobre faixas porque todas são igualmente boas, guardam entre si bastante coesão. Além disso, acho que todo mundo conhece o disco… Não? Então, por favor, vá lá ouvir urgentemente,


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