She Wants Revenge mostra avanços, mas ‘This is Forever’ provoca déjà vu


Antes de falarmos de This is Forever, alguns fatos sobre o duo californiano She Wants Revenge. Formado em 2003 pelos DJ’s Justin Warfield e Adam “Adam 12” Bravin, debutaram em 2006 com o álbum homônimo, conseguindo a marca de mais de trezentas mil cópias só nos EUA. O hit da banda é “Tear You Apart”, cujo vídeo teve direção de Joaquin Phoenix, e a letra fala sobre uma paixão doentia: “Eu quero segurá-la perto, seios macios, o coração batendo, e eu sussurro em seu ouvido, eu quero te despedaçar”. Com esse single, emplacaram um quinto lugar na parada alternativa. A repercussão do trabalho da dupla rendeu convites para abrirem shows do Depeche Mode, Bloc Party, The Kills e Placebo.

Apesar disso tudo e da chancela da Geffen Records, o She Wants Revenge permanece obscuro. Não se pode afirmar que caíram no gosto do grande público. Sua música, apesar de ter tocado bastante nas rádios gringas, não se enquadra no “gosto padrão do ouvinte de rádio”, embora funcione nas pistas de dança, leia-se em festas mais “escuras”. Boa parte da imprensa musical não os leva muito a sério, taxando-os de reciclagem de Depeche Mode, Joy Division e The Cure, e eles admitem suas influências. Acrescento às comparações um jeito de cantar que lembra por vezes Peter Murphy e uma nítida influência também do Bauhaus e Clan of Xymox.

Com as referências citadas, encontramos a matéria prima da dupla: Pós-Punk e Synthpop, ou seja, os anos 80. Nas letras falam de relacionamentos destroçados ou indecisos, desejos sexuais reprimidos e sentimentos de angústia, solidão, perda. O vocal mais parece declamar do que cantar. O SWR gosta também de dar tapas nas orelhas, alertando o quão doloroso pode ser o amor. Todos esses elementos estão lá em seu álbum de estreia e estão aqui em This is Forever, só que melhor arranjados e com tonalidades mais negras, por vezes lembrando Interpol, nos momentos mais densos, e Editors, na faixas mais agitadas.

A primeira coisa que chama a atenção no álbum é a capa, semelhante à do anterior, mas agora com uma mulher vestida de preto, envolta em sombras e usando um véu. Sugestão de mudança? Em parte apenas, já que sonoramente pouco mudou. Extra musicalmente chama a atenção também a rapidez entre um álbum e outro. Natural, se considerarmos a velocidade com que as coisas acontecem atualmente e que bandas pipocam aqui e acolá diariamente. Essa “pressa” ou pressão por um novo álbum é sintomática, os rapazes sabem o quão volátil é a música atual e o gosto do público.

Para quem não ouviu o primeiro single do álbum, “True Romance”, a abertura com “First, Love”, peça instrumental com toques de mistério, cria a expectativa pelo que está por vir, pairando a dúvida em relação aos caminhos que a música do SWR irá tomar. Logo somos atingidos por “Written in Blood” com uma levada que remete aos 80 via a sonoridade sombria do Sisters of Mercy, contando a história de uma garota que vai ao casamento vestida de preto (a garota da capa?). Em “Walking Away”, com seu batidão funk, o SWR mais uma vez nos apresenta uma história de relacionamento rompido: “Não vire as costas pra mim, não vá embora”, diz o refrão, e continua “Ainda é difícil dizer adeus, mas é muito melhor que viver uma mentira”.

Se em seu álbum de estreia percebia-se muitos espaços vazios, aqui nota-se uma preocupação em “encher” as canções com efeitos, principalmente de teclados, seja para criar climas ou recortar o arranjo.

A introdução de “True Romance” rememora “Personal Jesus” (Depeche Mode), com uma batida idêntica, mas a canção em si mais lembra Marylin Manson, com seus tecladinhos fantasmagóricos e guitarra e baixo distorcidos. Apesar do título, a letra fala de (mais uma vez) um amor não correspondido: “Eu sei que você nunca me amou, sei que você nunca se importou, mais uma dança talvez, porque é o mais próximo que chegaremos de um romance de verdade”. O glam-rock chega escancarado à música do duo na faixa “What I Want”, que tem um baixão poderoso, que somado com a batida dançante tem tudo pra não deixar uma pista vazia, o rápido solo de teclado é que pouco lhe acrescenta e quase compromete, o clima é totalmente Bauhaus, que voltará a dar as caras mais adiante também em “Checking Out”, onde a banda experimenta um pouco mais, ao dar uma quebrada no arranjo.

À medida que o álbum avança, vai se evidenciando uma melancolia recobrindo-o, vai se tornando mais denso. Os timbres de guitarra estão também mais variados, mas o tom monocórdico dos vocais, apesar da tentativa de explorar nuances diferentes, vai se tornando repetitivo. “It’s Just Begun”, das melhores faixas do álbum junto com “This is the End”, é um dos momentos onde essas sensações (de melancolia) se tornam maiores, e prossegue em “She Will Always Be a Broken Girl”, no melhor estilo Darkwave, e que bem pode ser tomada como uma segunda parte de “Tear You Apart”.

+++ Leia a crítica de No One Can Ever Know’, do The Twilight Sad

Para quem ouviu uma porção de bandas oitentistas fazendo esse mesmo som há vinte e poucos anos atrás, ouvir os álbuns do SWR traz aquela incômoda sensação de déjà vu, e isso percorre todo álbum. Tal sensação sublinha que precisam urgentemente encontrar seu próprio som, o que já era sentido no seu primeiro álbum. Entre lá e cá é inegável a evolução, a preocupação em dar aos arranjos dinâmicas diferenciadas. O resultado é um álbum menos cansativo. Mas, o círculo vicioso em que se encontram é perigoso, não se sustentará por mais um outro álbum. Para deixarem de ser apenas uma banda mediana no oceano de bandas medianas atuais, precisam diluir melhor suas referências, criar algo que tenha realmente a cara do She Wants Revenge. Quem sabe no próximo?


FAIXAS:
01. First, Love
02. Written in Blood
03. Walking Away
04. True Romance
05. What I Want
06. It’s Just Begun
07. She Will Always Be a Broken Girl
08. This Is the End
09. Checking Out
10 . Pretend the World Has Ended
11 . Replacement
12 . All Those Moments
13 . Rachael


 

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