Álbum de retorno do James, ‘Hey Ma’ olha para os anos 90 e traz belas surpresas


O retorno do James aos álbuns começou com a polêmica em torno da capa de Hey Ma, onde se vê um bebê brincando com uma arma – parece que o álbum tem duas capas, na outra é a mesma foto mas com o bebê em outra posição e a arma é um revólver ao invés da pistola.

Segundo o vocalista Tim Booth a imagem é uma metáfora: “a imagem é maravilhosa porque somos uma raça com armas nucleares e capacidade de nos autodestruir – além disso, em muitos aspectos ainda estamos na idade moral e emocional de um bebê. Então um bebê brincando com uma arma de fogo nos pareceu uma perfeita metáfora para o mundo”. A capa foi censurada e impedida de ser exposta em propagandas. Mesmo assim, a banda se recusou a alterá-la.

Hey Ma marca o retorno da banda sete anos após um fim que nunca chegou a ser de fato anunciado, registrado no ótimo DVD e álbum duplo Getting Away With It. Um retorno precedido inicialmente por alguns shows e a coletânea Fresh as Daisy – The Singles, lançada no ano passado. O recesso deixou os rapazes famintos. Segundo o guitarrista Larry Gott, a banda já está pensando no próximo álbum e imagina um futuro prolífico, “se nada nos detiver”, acrescenta. A volta de Gott, que havia deixado a banda em 95, é um sinal de que o James de 2008 está bem próximo do James de álbuns como Seven (1992) e Laid (1993). Não só isso, o alinhamento atual é o mesmo que participou de Laid, um dos melhores álbuns do grupo, e mais o trompetista Andy Diagram (responsável pelos inesquecíveis solos em “Born of Frustration”), que havia saído em 1992, logo após “Seven”.

Gravado na França entre outubro e novembro do ano passado, contando com a produção de Lee Muddy Baker, “Hey Ma” apresenta um James bem diferente de seus últimos álbuns antes do fim.

Sem as eletronices que contaminaram Millionaires e Pleased to Meet You reflete mais o James do início dos anos 90, dos álbuns já citados, até os vocais de Booth, marca forte da banda, parecem mais “relaxados”, exalando aquele frescor do início da carreira. Poderia ser o sucessor de Laid facilmente, não tivesse Gott inventado de pular fora.

Nas paradas britânicas, o álbum já bateu na décima posição. Nada mal para uma banda que ficou tanto tempo longe. A sede do público pela banda parece grande, já estava evidente desde o ano passado quando todos os ingressos para os shows de retorno se esgotaram rapidamente.

“Hey Ma”, a faixa título, tem uma pegada pra cima, começa acústica, crescendo e se tornando bem forte num segundo momento. É uma espécie de libelo contra a guerra no Iraque, uma canção de protesto bem direta. Foi doada para a instituição “Help for Heroes”, que ajuda soldados vitimados pela guerra, cujo vídeo pode ser visto no Youtube. Fala de forma direta sobre o onze de setembro e seus desdobramentos: “Agora que as torres caíram, há tanta poeira no ar que afetou sua visão… com a queda vieram escolhas muito piores do que ela”. Booth afirma que poderia ser uma grande pop song se não fosse pela letra. No refrão ele pega pesado: “Ei mãezinha, os garotos estão voltando pra casa em sacos e aos pedaços”.

Em “Bubbles” a ideia inicial é criar uma trama de climas armados pela guitarra e pianos, com a voz de Booth se sobressaindo, à medida que entram trompete, teclado e a canção se torna grandiosa, com o refrão repetindo “Someone to draw you right, Someone to catch the light, I’m alive, I’m alive”. Uma abertura atraente, mostrando que a banda está em boa forma, animando para prosseguir adiante. E bons momentos estão reservados ao longo do álbum, nos dedilhados refrescantes de “Waterfall”, que duelam com o trompete, ou “Oh My Heart”, descendente de “She’s a Star”, com um belo trabalho de guitarra de Gott e melodias excitantes oriundas mais uma vez do trompete.

Interessante como Hey Ma vai agradando aos poucos, com a descoberta de novos detalhes a cada audição, permitindo conexão com outros momentos da banda, mas sem soarem mais do mesmo. Andy com seu estilo de colocar o trompete faz uma diferença enorme, traz de volta aquele James circa 90/92 nunca esquecido.

“Estamos atrasados, deveríamos estar aqui mais cedo”, canta Booth em “Boom Boom”, como se dialogasse com seus ouvintes, mas em grande parte a letra é direcionada para a imprensa, especialmente nos versos “você escreveu sobre nós como derrotados de meio expediente…eu não perdoo, eu esqueço…nós estamos sorrindo agora, estamos sorrindo alto”. É outra bela canção, com elementos orquestrados que predominam no minuto final.

+++ Leia sobre do ‘Living in Extraordinary Times’, do James

“Upside” tem uma introdução acústica bonita e fala de distancia e saudade. Segue o padrão de ‘”Bubbles”, começando como balada discreta e crescendo em seguida. Para o final o James reserva ainda a dançante “Whiteboy”, com clima bem pra cima, e a densa “72” com vocal cheio de efeitos e letra que fala mais uma vez de guerra, guerra em nome da religião: “Você está matando em nome de Deus, com que tipo de Deus você sonha, um Deus de sangue e não de amor?”. Finalizando com a profundidade de “I Wanna Go Home”, sobre um sujeito que está num bar e se sente morrendo, deslocado no mundo, e o que mais deseja é voltar pra casa.

“Hey Ma” é um retorno triunfante para o James que consegue encontrar feliz o…James.


:: FAIXAS:
01. Bubbles
02. Hey Ma
03. Waterfall
04. Oh My Heart
05. Boom Boom
06. Semaphore
07. Upside
08. Whiteboy
09. 72
10. Of Monsters & Heroes & Men
11. I Wanna Go Home
12. Child To Burn

 


 

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